Bom lembrar que os Perrella são empresários exercendo cargo eletivo

Não passa semana em que não circule no país algum fato controverso envolvendo algum operador político relevante. No dia 25 de novembro, no município de Afonso Cláudio (serra capixaba), outro escândalo abala a política profissional brasileira.

Desta vez os pivôs foram dois parlamentares mineiros, o senador Zezé Perrella (PDT, ex-presidente do Cruzeiro) e o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD). Apenas a narrativa dos fatos materializa a evidência das relações pouco republicanas entre o patrimônio público e os fins e usos privados.

O caso do helicóptero pertencente à família Perrella, em nome da Limeira Agropecuária, apreendido pela Polícia Federal (PF) com 443 kgs de cocaína revela a estrutura que atravessa o poder no Brasil.

O piloto da aeronave – preso e principal suspeito - além de ser funcionário da empresa dos filhos do senador, também é lotado no gabinete do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) e o combustível do helicóptero havia sido comprado através de verba indenizatória!

Para piorar, o piloto teria avisado ao proprietário – o parlamentar – que faria um frete, mesmo tendo seu salário pago pelo contribuinte assim como a gasolina do veículo. A licença não é para voo comercial e sim particular, logo os fretes são proibidos.

Trata-se de um conjunto de erros na normativa política. Primeiro, um ex-cartola deveria enfrentar um largo período de quarentena até concorrer a cargo eletivo. Segundo, é um absurdo que qualquer casa legislativa reponha os gastos com combustível para aeronaves, sendo que estas são os principais veículos usados em campanhas. Terceiro, deveria ser proibido lotar alguém em gabinete se esta pessoa também for funcionária de alguma pessoa jurídica pertencente ao mandatário do cargo.

Seria leviano e imprudente afirmar a responsabilidade direta do deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) e do senador Zezé Perrella (PDT) no caso. Reza a boa prática a checagem e averiguação, assim como também a aplicação de medidas cautelares.

O mais sensato seria o afastamento das funções legislativas, tanto do pai como do filho, para ao final das investigações, haver um retorno ao cargo totalmente imune de culpa. Do contrário, paira a suspeita de que está ocorrendo uma "operação abafa" e a tentativa explícita de mudar o foco em função das alianças e amizades políticas do ex-presidente do vitorioso clube Palestra Itália de Minas, o Cruzeiro Esporte Clube. Sem cortar na carne, não adianta tentarem salvar as elites políticas do país da má avaliação.

Bruno Lima Rocha é cientista político.
(www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@gmail.com)

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