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Nassiff: O Cândido

A chance de se implantar a democracia digital

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Esgotada a fase das passeatas e manifestações públicas, com algumas recaídas aqui e ali, o país entrará na fase do pós-manifestações.
Então, haverá desafio para estadista nenhum botar defeito. Quem entender os novos tempos, se consagrará; quem não entender, estará fora do jogo.
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Qualquer estratégia política não pode ignorar as características dos novos tempos:
  1. O campo político, doravante, é o online, as redes sociais. São as novas ágoras, as praças púbicas das democracias gregas. Não dá para fugir da arena.
  2. As decisões políticas de gabinete estão definitivamente superadas. O país já avançou com a Lei de Transparência, que expõe alguns dados a posteriori. Terá que começar a trabalhar com formas de democracia direta.
  3. O cidadão entrou, finalmente, no centro das políticas públicas. Na segunda-feira, por exemplo, no embalo das manifestações, a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) anunciará uma comissão de juristas para trabalhar a Lei de Proteção aos Direitos do Usuário de Serviços Públicos. É típica reação civilizatória contra um dos pontos centrais de abuso, a ausência de Estado na regulação dos serviços públicos.
  4. O atual arcabouço político-partidário envelheceu irreversivelmente. Não haverá como fugir ao tema central da reforma política, definindo formas que eliminem, de vez, os financiamentos privados de campanha.
  5. É hora de se repensar a questão da militarização da Polícia Militar.
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A presidente da República Dilma Rousseff tem a faca e o queijo na mão. Se tiver discernimento, as manifestações poderão se constituir no empurrão definitivo para lançar o país em uma nova etapa da democracia.
Há um roteiro à vista, a ser protagonizado por Dilma.
O primeiro passo é radicalizar uma iniciativa sua, a Lei da Transparência – que obriga todos os órgãos públicos a disponibilizarem dados na Internet. Já existem experiências no Brasil e no mundo, sobre o uso inteligente das redes sociais para fiscalização de obras e serviços públicos.
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Tome-se o caso dos transportes urbanos em São Paulo. Embora atropelado pelos fatos, o prefeito Fernando Haddad é um dos políticos com cabeça mais aberta para participação popular.
Ora, aproveite o impulso dado pelo Movimento Passe Livre e exponha todos os dados das empresas de transporte à fiscalização das redes sociais. Coloque os GPs dos ônibus, as rotas seguidas, o número de passageiros de cada trajeto, os dados do trajeto, as planilhas de custos e peça a parceria da rapaziada, ensinando como analisar os dados e como disciplinar as empresas.
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Já existem ferramentas tecnológicas para monitoramento de obras públicas, para análises de contratos, para montar fóruns de discussão, para captar os sentimentos nas redes sociais. Através de um sistema de redes, o governo não ficará prisioneiro de indicadores que, muitas vezes, servem de biombo para esconder funcionários relapsos.
Sem rompantes, Dilma abriu os dados públicos com a Lei de Transparência. É hora de avançar e expor os sistemas de decisão aos olhos das redes sociais.
A crise, se bem interpretada, poderá permitir ao Brasil montar o primeiro movimento sério de cidadania digital.

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